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um
Vi um homem esta manhã
Que não queria morrer
P. S. Stewart
Imagine que você precisa quebrar o braço de alguém.
Não interessa se é o direito ou o esquerdo. O ponto é que você precisa quebrá-lo, porque se não o fizer... bom, isso não importa também. Vamos dizer que coisas ruins vão acontecer se você não fizer isso.
O que quero perguntar é o seguinte: você quebraria o braço da pessoa rapidinho - tipo crack, oops, desculpe, deixa eu ajudar você com esta tala improvisada - ou prefere fazer aquele serviço completo que dura uns bons oito minutos, aumentando a pressão aos poucos, até que a dor fique rosa e verde e quente e fria e tudo isso junto, o que a torna dolorosamente insuportável?
Exatamente. É claro. O certo a fazer, a única coisa a se fazer, é resolver a coisa logo, o mais rápido possível. Quebre o braço, ofereça um conhaque e seja um bom cidadão. Não pode haver nenhuma outra resposta.
A menos que.
A menos que, a menos que, a menos que...
E se você odiasse a pessoa do braço? Quero dizer, se odiasse muito, mas muito mesmo.
Isso era algo que eu tinha que considerar agora.
Quando digo agora, quero dizer naquela hora, naquele momento em que eu estava querendo descrever; o momento em câmera lenta, ah, maldita câmera lenta, antes de o meu punho alcançar a parte de trás do meu pescoço e meu úmero esquerdo se quebrar em pelo menos dois, ou muito possivelmente mais, pedaços moloides presos um ao outro.
O braço do qual estávamos falando, como pode ver, era o meu. Não é um braço abstrato, filosófico. O osso, a pele, os pelos, a pequena cicatriz branca no cotovelo, ganha da quina de um armário na Escola Primária de Gateshill - tudo isso pertence a mim. E agora é o momento no qual devo considerar a possibilidade de que o homem atrás de mim, prendendo meu braço e o levantando pelas minhas costas com um cuidado quase sexual, me odeia. Quero dizer, me odeia muito, muito mesmo.
Ele está fazendo isso há uma eternidade.
O sobrenome dele era Rayner. Primeiro nome desconhecido. Por mim, na verdade, e por causa disso, presumivelmente, pra você também.
Imagino que alguém, em algum lugar, sabia o primeiro nome dele - deve tê-lo batizado com esse nome, chamado ele para o café da manhã, ensinado como soletrá-lo - e alguém deve tê-lo gritado do outro lado do bar oferecendo uma bebida, ou murmurado durante o sexo, ou escrito no campo de um formulário de seguro de vida. Sei que devem ter feito todas essas coisas. É apenas difícil imaginar, só isso.
Estimo que Rayner era uns dez anos mais velho do que eu. E tudo bem. Nada errado com isso. Tenho relações ótimas e sem braços quebrados com várias pessoas que têm dez anos a mais do que eu. Em geral, pessoas dez anos mais velhas do que eu são admiráveis. Mas Rayner também era uns oito centímetros mais alto do que eu, 30 quilos mais pesado e pelo menos uns oito qualquer-que-seja-a-medida-para-a-violência mais violento. Ele era mais feio do que não sei o quê, com uma cabeça enorme e careca; seu nariz, amassado de lutador, parecia ter sido desenhado na cara dele por alguém usando a mão esquerda, ou talvez até mesmo o pé esquerdo, saía do rosto em um sinuoso e assimétrico triângulo abaixo de sua testa áspera e grossa.
Aliás, benza Deus, que testa! Tijolos, facas, garrafas e argumentos que faziam sentido, cada um a seu tempo, bateram e voltaram naquela massiva superfície frontal, deixando apenas pequenas marcas entre seus poros profundos e espaçadamente gigantes. Acho que eram os poros mais profundos e espaçados que já vi em uma pele humana, por isso me vi pensando no conselho do verde de Dalbeattie, no fim do longo e seco verão de 1976.
Mudando agora para a parte lateral, descobrimos que as orelhas de Rayner foram, há muito tempo, arrancadas com mordidas e depois colocadas de volta, porque a esquerda só podia estar de cabeça para baixo, ou talvez do avesso, ou algo que fizesse você olhar para ela um longo tempo até pensar "ah, é uma orelha".
E além de tudo isso, se você ainda não entendeu, Rayner usava uma jaqueta de couro preta por cima de uma camiseta preta de gola alta, tipo cacharel. (...)
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Autor: Hugh Laurie
Editora: Planeta
Páginas: 288
Quanto: R$ 39,90
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 e no site da Livraria da Folha
Um comentário:
O seriado é ótimo e o ator Hugh Laurie é uma revelação para mim, eu sempre lembro dele como o pai do ratinho Stuart Little (o filme é bonitinho vai... Rsrs). Mas por ser britânico e com a educação dúbia entre a seriedade e a ironia, Hugh tem um dom impressionante para a narrativa. Esse "teaser", como apontou o Igor, dá uma ótima impressão que ele é um multitalento. Impressionante. Vamos repartir esse livro.
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